quarta-feira, 14 de outubro de 2009
CRONOGRAMA PARTE FINAL DO CURSO
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
ARCADISMO
1. POEMAS DE "MARÍLIA DE DIRCEU" (TOMÁS ANTONIO GONZAGA)
Lira I
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d’ expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Eu vi o meu semblante numa fonte,
Dos anos inda não está cortado:
Os pastores, que habitam este monte,
Com tal destreza toco a sanfoninha,
Que inveja até me tem o próprio Alceste:
Ao som dela concerto a voz celeste;
Nem canto letra, que não seja minha,
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Mas tendo tantos dotes da ventura,
Só apreço lhes dou, gentil Pastora,
Depois que teu afeto me segura,
Que queres do que tenho ser senhora.
É bom, minha Marília, é bom ser dono
De um rebanho, que cubra monte, e prado;
Porém, gentil Pastora, o teu agrado
Vale mais q’um rebanho, e mais q’um trono.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Os teus olhos espalham luz divina,
A quem a luz do Sol em vão se atreve:
Papoula, ou rosa delicada, e fina,
Te cobre as faces, que são cor de neve.
Os teus cabelos são uns fios d’ouro;
Teu lindo corpo bálsamos vapora.
Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora,
Para glória de Amor igual tesouro.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Leve-me a sementeira muito embora
O rio sobre os campos levantado:
Acabe, acabe a peste matadora,
Sem deixar uma rês, o nédio gado.
Já destes bens, Marília, não preciso:
Nem me cega a paixão, que o mundo arrasta;
Para viver feliz, Marília, basta
Que os olhos movas, e me dês um riso.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Irás a divertir-te na floresta,
Sustentada, Marília, no meu braço;
Ali descansarei a quente sesta,
Dormindo um leve sono em teu regaço:
Enquanto a luta jogam os Pastores,
E emparelhados correm nas campinas,
Toucarei teus cabelos de boninas,
Nos troncos gravarei os teus louvores.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Depois de nos ferir a mão da morte,
Ou seja neste monte, ou noutra serra,
Nossos corpos terão, terão a sorte
De consumir os dois a mesma terra.
Na campa, rodeada de ciprestes,
Lerão estas palavras os Pastores:
“Quem quiser ser feliz nos seus amores,
Siga os exemplos, que nos deram estes.”
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Lira II
Pintam, Marília, os Poetas
A um menino vendado,
Com uma aljava de setas,
Arco empunhado na mão;
Ligeiras asas nos ombros,
O tenro corpo despido,
E de Amor, ou de Cupido
São os nomes, que lhe dão.
Porém eu, Marília, nego,
Que assim seja Amor; pois ele
Nem é moço, nem é cego,
Nem setas, nem asas tem.
Ora pois, eu vou formar-lhe
Um retrato mais perfeito,
Que ele já feriu meu peito;
Por isso o conheço bem.
Os seus compridos cabelos,
Que sobre as costas ondeiam,
São que os de Apolo mais belos;
Mas de loura cor não são.
Têm a cor da negra noite;
E com o branco do rosto
Fazem, Marília, um composto
Da mais formosa união.
Tem redonda, e lisa testa,
Arqueadas sobrancelhas;
A voz meiga, a vista honesta,
E seus olhos são uns sóis.
Aqui vence Amor ao Céu,
Que no dia luminoso
O Céu tem um Sol formoso,
E o travesso Amor tem dois.
Na sua face mimosa,
Marília, estão misturadas
Purpúreas folhas de rosa,
Brancas folhas de jasmim.
Dos rubins mais preciosos
Os seus beiços são formados;
Os seus dentes delicados
São pedaços de marfim.
Mal vi seu rosto perfeito
Dei logo um suspiro, e ele
Conheceu haver-me feito
Estrago no coração.
Punha em mim os olhos, quando
Entendia eu não olhava:
Vendo o que via, baixava
A modesta vista ao chão.
Chamei-lhe um dia formoso:
Ele, ouvindo os seus louvores,
Com um gesto desdenhoso
Se sorriu, e não falou.
Pintei-lhe outra vez o estado,
Em que estava esta alma posta;
Não me deu também resposta,
Constrangeu-se, e suspirou.
Conheço os sinais, e logo
Animado de esperança,
Busco dar um desafogo
Ao cansado coração.
Pego em teus dedos nevados,
E querendo dar-lhe um beijo,
Cobriu-se todo de pejo,
E fugiu-me com a mão.
Tu, Marília, agora vendo
De Amor o lindo retrato,
Contigo estarás dizendo,
Que é este o retrato teu.
Sim, Marília, a cópia é tua,
Que Cupido é Deus suposto:
Se há Cupido, é só teu rosto,
Que ele foi quem me venceu.
Lira XV
Eu, Marília, não fui nenhum Vaqueiro,
Fui honrado Pastor da tua aldeia;
Vestia finas lãs, e tinha sempre
A minha choça do preciso cheia.
Tiraram-me o casal, e o manso gado,
Nem tenho, a que me encoste, um só cajado.
Para ter que te dar, é que eu queria
De mor rebanho ainda ser o dono;
Prezava o teu semblante, os teus cabelos
Ainda muito mais que um grande Trono.
Agora que te oferte já não vejo
Além de um puro amor, de um são desejo.
Se o rio levantado me causava,
Levando a sementeira, prejuízo,
Eu alegre ficava apenas via
Na tua breve boca um ar de riso.
Tudo agora perdi; nem tenho o gosto
De ver-te aos menos compassivo o rosto.
Propunha-me dormir no teu regaço
As quentes horas da comprida sesta,
Escrever teus louvores nos olmeiros,
Toucar-te de papoulas na floresta.
Julgou o justo Céu, que não convinha
Que a tanto grau subisse a glória minha.
Ah! minha Bela, se a Fortuna volta,
Se o bem, que já perdi, alcanço, e provo;
Por essas brancas mãos, por essas faces
Te juro renascer um homem novo;
Romper a nuvem, que os meus olhos cerra,
Amar no Céu a Jove, e a ti na terra.
Fiadas comprarei as ovelhinhas,
Que pagarei dos poucos do meu ganho;
E dentro em pouco tempo nos veremos
Senhores outra vez de um bom rebanho.
Para o contágio lhe não dar, sobeja
Que as afague Marília, ou só que as veja.
Senão tivermos lãs, e peles finas,
Podem mui bem cobrir as carnes nossas
As peles dos cordeiros mal curtidas,
E os panos feitos com as lãs mais grossas.
Mas ao menos será o teu vestido
Por mãos de amor, por minhas mão cosido.
Nós iremos pescar na quente sesta
Com canas, e com cestos os peixinhos:
Nós iremos caçar nas manhãs frias
Com a vara envisgada os passarinhos.
Para nos divertir faremos quanto
Reputa o varão sábio, honesto e santo.
Nas noites de serão nos sentaremos
C’os filhos, se os tivermos, à fogueira;
Entre as falsas histórias, que contares,
Lhes contarás a minha verdadeira.
Pasmados te ouvirão; eu entretanto
Ainda o rosto banharei de pranto.
Quando passarmos juntos pela rua,
Nos mostrarão c’o dedo os mais Pastores;
Dizendo uns para os outros: “Olha os nosso
“Exemplos da desgraça, e são amores”.
Contentes viveremos desta sorte,
Até que chegue a um dos dois a morte.
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
ESPELHO DENTRO DE ESPELHO
FRANCESCO MAZZOLA, natural de Parma, e por isso cognominado "Il Parmigianino", em 1523, postou-se diante de um espelho convexo e pintou um auto-retrato. Este fato marcou o início de uma nova moda e de um novo estilo que foi conhecido pelo nome de Maneirismo. Pelo espaço de 150 anos, esta arte de afetação marcaria profundamente a vida intelectual e social de Roma a Amsterdã, de Madri a Praga (...). Por causa da perspectiva sob distorção do espelho convexo, vê-se, em primeiro plano, uma mão demasiadamente grande e anatomicamente insólita. Nota-se um movimento convulsivo que chega a ser vertiginoso. Ao fundo, distingue-se apenas confusamente uma minúscula parte da janela em forma de um triângulo alongado, onde a luz e a sombra tentam desenhar alguns sinais hieroglíficos. O retrato, em forma de medalhão, apresenta-se como modelo característico do espírito (...). O quadro não é apenas o retrato do Parmigianino, que morreu bastante jovem. Ele retrata ainda o homem do Maneirismo, o janota cerebral e melancólico, que, segundo Baudelaire, se apresenta como 'alguém de destaque' e que procura 'viver e dormir diante de um espelho'. O quadro também revela algo a respeito da situação política, assaz caótica, na Europa de então. Nota-se uma ânsia por atingir o extravagante, o singular, o exótico, e tudo quanto se dissimula para além e no seio da realidade física natural. Torna-se igualmente evidente a vontade de conservar uma distância aristocrática em face da sociedade. Todas essas tendências tornam-se legítimas graças a um talento "engenhoso", que não pode ser mais considerado como dependente das normas clássicas.
terça-feira, 1 de setembro de 2009
domingo, 30 de agosto de 2009
GUMBRECHT NO BRASIL - DIA 02.09.2009
HANS STADEN E O BRASIL
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
TRÊS TEXTOS INAUGURAIS
2. RELAÇÃO DA VIAGEM DE PEDRO ÁLVARES CABRAL (Piloto anônimo)
Link: http://www.cervantesvirtual.com/servlet/SirveObras/12826629779175964198846/p0000001.htm
3. CARTA DE MESTRE JOÃO AO REI DOM MANUEL (Mestre João)
Link: http://www.brasilazul.com.br/cartademestrejoao.asp
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
16 FRAGMENTOS PARA DISCUSSÃO EM SALA
2. E para que poetas em tempos de fome?
3. É possível definir exatamente a função da crítica e da interpretação de textos literários?
4. A crítica literária pode ou deve aspirar à totalidade? A totalidade é um horizonte possível no âmbito da crítica literária? E no âmbito da linguagem, do pensamento e do processo de obtenção do conhecimento?
5. A paralaxe é um fenômeno óptico relativamente simples que pode ser usado como método. Ela é a mudança de posição aparente de um objeto em relação a um segundo plano mais distante, quando esse objeto é visto a partir de ângulos diferentes.
6. O Objeto só pode ser percebido quando de lado, sob uma forma parcial, distorcida, como a sua própria sombra – se lhe lançamos um olhar direto nada vemos, vemos um simples vazio. O Objeto só é acessível através de um adiamento incessante. O Objeto é, portanto, qualquer coisa de criado por uma rede de desvios, aproximações e quase colisões.
7. A Coisa Real é um espectro fantasmático cuja presença garante a consistência de nosso edifício simbólico, permitindo-nos evitar sua inconsistência constitutiva.
8. Todas as nossas posições são relativas, condicionadas por constelações históricas contingentes, de forma que ninguém tem soluções definitivas, apenas soluções pragmáticas temporárias.
9. Nos vinte anos em que tenho dado aula de literatura assisti ao trânsito da crítica por impressionismo, historiografia positivista, new criticism americano, estilística, marxismo, fenomenologia, estruturalismo, pós-estruturalismo e agora teorias da recepção. A lista é impressionante e atesta o esforço de atualização e desprovincianização em nossa universidade. Mas é fácil observar que só raramente a passagem de uma escola a outra corresponde, como seria de esperar, ao esgotamento de um projeto; no geral ela se deve ao prestígio americano ou europeu da doutrina seguinte. Resulta a impressão – decepcionante – da mudança sem necessidade interna, e por isso mesmo sem proveito. O gosto pela novidade terminológica e doutrinária prevalece sobre o trabalho de conhecimento.
10. Por mais que cognitivistas e desconstrutivistas – esses inimigos mortais – clamem em acordo que o Eu “substancial” que precede ao campo aberto da interação social contingente, este Eu “substancial” não existe, por mais que o esoterismo new age ocidental faça coro com a narrativa de que o Eu é apenas um conjunto de eventos mentais heterogêneos e elusivos, por mais que eles clamem, nossa experiência cada vez mais é a de um Eu isolado e imerso em sua esfera neurótica ou alucinatória. Eis-nos ligados à rede por nossos computadores que rodam Windows; no entanto, nós somos cada vez mais organismos isolados sem qualquer janela para a realidade, interagindo sozinhos com uma tela de computador, encontrando apenas simulacros virtuais e presos cada vez mais nas tramas da rede ideológica da globalização.
11. A interpretação da arte a partir unicamente da forma, isolada no belo formal, é pobre perante o fenômeno estético, é uma redução.
12. A importância do dado biográfico para a interpretação da obra é relativa. Embora psicanalistas e críticos literários operem interpretações a partir de textos (um, com as narrativas do inconsciente oferecidas pelos pacientes; o outro, com textos literários), como bem frisa Adorno, o elemento biográfico projetivo no processo de produção dos artistas é, na relação com a obra, apenas um momento e dificilmente o decisivo. O mesmo autor chama atenção para o perigo da aplicação da psicanálise à interpretação de obras de arte, uma vez que sua ênfase nas projeções biográficas acaba por reduzir o fenômeno estético à identidade integral entre obra e artista. Para Adorno, a psicanálise corre sempre o risco de transpor o pedantismo médico para um objeto inadequado e sutil – como Leonardo e Baudelaire ou, entre nós, Machado de Assis ou Clarice.
13. A literatura é uma prática especificamente subjetiva? Em que medida ela ajuda a construir a subjetividade de quem lê?
14. A literatura pode ajudar a entender e construir o real? A interpretação e a crítica de textos literários e de fenômenos culturais pode ajudar a entender e construir o real?
15. A literatura é um ato socialmente simbólico. Por isso a prioridade da interpretação política dos textos literários. A perspectiva política não é um método suplementar ou auxiliar opcional de outros métodos interpretativos hoje em uso – o psicanalítico, o mítico-crítico, o estilístico, o ético, o estrutural –, mas como horizonte absoluto de toda leitura e de toda interpretação.
16. Em plena vigência das sociedades midiáticas e em plena vitória do capitalismo multinacional com discurso e dominação globalizantes, ainda é possível falar em cultura popular? Confrontar as suas reflexões com as de Roberto Schwarz: Como seria a cultura popular se fosse possível preservá-la do comércio e, sobretudo, da comunicação de massa? O que seria uma economia nacional sem mistura? De 64 para cá a internacionalização do capital, a mercantilização das relações sociais e a presença da mídia avançaram tanto que estas questões perderam a verossimilhança.